quinta-feira, 17 de maio de 2012

Alemães: levantem-se os réus?

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Fala-se muito da Alemanha como a principal co-responsável pela presente crise da Zona Euro, sobretudo por não ter sabido antecipar respostas adequadas a uma situação que será "sistémica" e não apenas resultante do mau comportamento político, ou económico, dos Países mais pobres do Sul, apontados (numa narrativa simétrica) como incumpridores crónicos e reincidentes dos seus deveres perante a União.


Creio, contudo, serem ambas estas "explicações" demasiado simplistas, se não mesmo ilusórias, não me parecendo, no caso da primeira (que abordo neste texto), que se possa apontar Ângela Merkel, ou a Alemanha, como os principais “culpados”, ainda que passivos, da presente crise, tanto quanto me parece igualmente inútil apontar a Grécia, ou os PIIGS em geral, como os seus "culpados" activos.


        Mas aquilo que julgo ser o mais incorrecto de toda esta narrativa mediática e política, da qual eu discordo profundamente, é o facto de se associar, inútil e maldosamente, esta "sentença de culpa" da Alemanha ao seu passado histórico do Séc. XX, em que de facto provocou enorme instabilidade política e militar na Europa e causou mesmo duas das Guerras mais mortíferas e destruidoras de toda a História, associação mental que, porém, considero não só um evidente exagero, como uma verdadeira mistificação da realidade atual.


        Choca-me por isso bastante que, cada vez mais audívelmente, se continue a persistir no erro histórico (crasso, quanto a mim) de pretender ressuscitar realidades pretéritas que, simplesmente, já não existem, para supostamente "explicar" fenómenos da atualidade. Assemelhar a República Federal da Alemanha dos nossos dias às Alemanhas imperiais passadas, nucleadas pela Prússia, é um raciocínio simplista e equivocado, que não conduz a lado algum. A Prússia, entidade política e militar que conferia o carácter bélico e autocrático às Alemanhas imperialistas, foi efectivamente varrida do mapa europeu em 1945, com a derrota de Hitler e do nazismo. Não existem já nem o seu pequeno Território (desgermanizado por vários Países eslavos e bálticos), nem o seu obscuro Povo (que parece nunca ter chegado a saír de um certo feudalismo latifundiário, dominado pelos famosos "Junker"), nem o seu temível Exército (dissolvido no embate fatal com o Exército Vermelho). Resta apenas a memória histórica, do tal "Exército que possuía um Estado", e mesmo assim uma memória já bastante ténue, por motivo do extermínio e do êxodo que as duas guerras (e também a posterior ocupação soviética) provocaram. O desaparecimento da Prússia é um fenómeno de uma radicalidade sem paralelo na História europeia recente e nem sequer houve um “aproveitamento” dos seus "restos mortais" no regime da Alemanha Oriental, como alguns hoje, algo demagógicamente, pretendem ou insinuam: a Prússia como entidade política e geográfica terminou, cessou, findou, acabou para sempre!

           Convém por isso ter devidamente em conta que a Alemanha de hoje (que é já também a das últimas seis décadas) é, sem qualquer sombra de dúvida, um País completamente diferente das Alemanhas imperiais do seu Passado! Isto quer aos níveis político e geográfico, quer sobretudo ao nível social e cultural. É mesmo, se quisermos, um dos Países mais socialistas, no verdadeiro sentido deste termo, de toda a Europa atual! Nem mesmo um Governo conservador consegue modificar essa caractérística intrínseca da Alemanha atual (bem ao contrário de Portugal, aliás, onde nem um Governo progressista, ou até revolucionário, consegue alterar o cariz eminentemente conservador e retrógrado deste País e deste Povo...).


            Por isso, cautela quando se simplifica e se vê o Mundo a preto e branco. Está-se a querer criar uma nova mitologia pseudo-esquerdista, que associa os males da Europa à Alemanha só pelo seu Passado histórico recente (ou parte dele) e pelas cores do seu Governo atual, fazendo-se tábua rasa de tudo quanto a Alemanha contribuíu quer para a construção e a integração europeias, quer para a consolidação da Democracia na Europa e no Mundo, quer até para a prosperidade dos Povos europeus, em todos os domínios e mais alguns, desde a criação de condições dignas e humanas para os seus Imigrantes (milhares dos quais portugueses, que aliás nunca se queixaram de descriminações), até à disponibilização de avultadas somas para “pagar” o festim da integração europeia dos mais débeis.


                    A Alemanha, enquanto País e sobretudo enquanto Estado, eminentemente pacifista, democrático e social, deve ser colocada é no centro das soluções para a crise europeia, nunca no fulcro dos seus atuais e graves problemas…


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sexta-feira, 4 de maio de 2012

A "unidade" impossível da "Esquerda" portuguesa

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     Ao contrário daquilo em que ainda acredita o Prof. Dr. André Freire, eminente "cientista social e político", a "Esquerda" portuguesa é coisa que não existe. Se calhar, nem nunca existiu... Sintoma claro disso é que até já um famoso "blogueiro" do ideológico «5 Dias» foi contratado, com sucesso, para integrar o "bunker" do Relvas (assim como, por exemplo, os ex-combativos "sindicaleiros da educassão" estarão agora discretamente amancebados em algum local, muito "próximo do Crato"...).


      Em consequência, parece-me que continuar a perspectivar cenários grandiosos de "unidade da Esquerda", tipo "frente popular", com uma grande "abrangência social" e aglutinando, programáticamente, sectores político-
-ideológicos inconciliáveis, como são o PS e os Partidos ditos à sua Esquerda, não passa de uma ilusão pueril, que embala os sonhos angélicos de alguns "académicos sociais", instalados em idílicas torres de marfim, algures lá muito acima das nuvens...


       Isto porque a estratégia dos aparelhos e das cúpulas do PCP e do BE, está mais que visto, não passará nunca pela unidade com aqueles que defendem, convicta e consequentemente, a Democracia e o Estado Social!



           Passa antes por um férreo "Pacto de Não Agressão" (do tipo Ribbentrop-Molotov...), numa autêntica "cooperação estratégica" (esta sim) com a Direita, para tentar destruír de vez o PS, primeiro, e a seguir então o... Capitalismo (sim, sim, é uma boa anedota, esta extrema-"esquerda" que temos...)!

     E se necessário fosse, a prova da impossibilidade de uma tal ocorrência em Portugal (como parece que também na Grécia...), está no insucesso clamoroso dessa "malformação congénita" grotesca em que, políticamente, redundou a equivocada candidatura de Manuel Alegre à Presidência, "apoiada" em simultâneo pelo PS e pelo BE! E se foi assim numa candidatura uni-pessoal, imagine-se um dia num Executivo, com vários Ministros do PS a conviverem com outros do BE e do PCP...


      Quanto à evolução da situação política atual, ao contrário do que vaticina muito "paineleiro" televisivo, parece-me que, mais do que provávelmente, serão os próprios votantes do PSD que, um dia, acabarão por explodir na tromba do atual "governo"! Só não se sabe ainda bem é o quando e o como...

       Mas que tudo terá forçosamente que passar pela renúncia de Cavaco, fomentador-mor do bloqueio partidário em que nos encontramos, e sobretudo por um Governo de Salvação Nacional, liderado talvez por alguém como Rui Rio, com base na A. R. atual, integrando os três Partidos (ou pelo menos os dois maiores) que subscreveram o "Memorando de Entendimento" e que dure, de preferência, até ao final do período de assistência internacional - tenha lá ele a duração que tiver... -, sobre isso já não tenho grandes dúvidas.

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